carta a alguem que não consigo encontrar

eu nem sei por onde começo, mesmo sentindo que é por mim.

nesse momento, quero escrever livre para que eu não consiga intervir com o meu cansativo jeito de não dever ser.

eu,

os meus poemas não podem me salvar da profundidade que existe em mim. eles não podem me salvar das dores que sinto, do imenso vazio que habito, e é bizarro escrever isso; posso enxergar na prática os meus erros, e até por onde eu poderia andar… mas quem diz que é fácil não sabe o que é o silêncio da dor, ou foi acariciado com a vida da sorte.

eu,

eu não queria ser seguro de mim. assim como em vários momentos eu não me quis ser.

eu,

a minha angústia maior é buscar ser o alguém que não conheço.

penso no tempo, nas perdas, nas dores, nas lágrimas… penso em tantas coisas que não foram ditas, sentidas, vividas e então penso em mim: no que fui e no que sou, mas não vejo o que me seria.

essa dor me adoece silenciosamente e diz que preciso entender o que é precisar. essa dor me mostra que sou frágil, sou fraco, falho, e que tudo bem eu errar! acho que essa dor não entende o preço pago, eu (ou eu não quero que entenda).

que loucura é essa vida!!! quantos altos e baixos!

eu tenho entendido que não bastou “querer” mas bastava eu precisar de um abraço, um tapa, um grito, de uma voz que não fosse a da minha cabeça, que me confrontasse trocentas vezes e perguntasse: “tem certeza que esse é o caminho?”.

meu eu que se chama alguém,

sou obrigado por eu mesmo a continuar nesse lento encontro contigo… mas me peço: - não dificulta mais! vê se aparece.

continuo na batalha ardilosa entre meu coração, minhas razões, minha alma e o cansaço.